Por CTV LAB
Em 2019, criamos a campanha #MarçoVermelho para debatermos as diferentes vivências do ser mulher durante todo o mês de março. Em 2020, a campanha está de volta com novos temas em todos os canais de comunicação da Cative!
Uma mulher entra numa loja de departamento em busca de uma calça jeans. Ela encontra a seção de calças, pega três modelos diferentes do seu número: 42. Vai até o provador e veste a primeira calça: pequena. A segunda: não passou dos joelhos. A última: encrencou para passar nas coxas. Nenhuma das três calças serviram. Ela vai até a arara e pega calças com tamanho 44 e 46. Repete o ritual. Nenhuma serve de novo.
Se você é mulher, já deve ter passado por isso usando qualquer tamanho de roupa. É notável que nos últimos anos os tamanhos da etiqueta não significam o que significava nas gerações anteriores. Hoje a maioria dos guarda-roupas são feitos com calças de ao menos três tamanhos diferentes e que servem perfeitamente no corpo da dona das calças.
Em um mundo onde o 40 virou 38 e o 44 às vezes nem existe mais, ser gorda é um desafio. Se antes já era difícil para quem vestia do tamanho 48 para cima, hoje encontrar uma roupa pode virar um martírio para qualquer mulher. Mas por que isso?
Antes, a maior parte das roupas vendidas no Brasil eram produzidas aqui também e seguiam mais ou menos o mesmo padrão. Com a globalização, as calças são produzidas e vendidas em diversos países do mundo, no caso brasileiro, muitas são produzidas na China onde o padrão de mulher é mais magro do que aqui. Enquanto não existir uma padronização, cenas como a foto abaixo continuarão a ser comuns.
Mesmo quando existia uma padronização de tamanhos, os modelos disponíveis para o tamanho P eram sempre o de maior quantidade. O GG era quase impossível de achar e algo maior do que isso nem existia.
Entre mulheres gordas é comum ouvir que elas compram o que tem e não o que gostariam. O movimento body positive e marcas voltadas para tamanhos plus size ou sob medida ganham a internet, mas ainda não alcançam a maior parte da população brasileira.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2018, 55,7% (20,7% das mulheres) dos brasileiros apresentavam o chamado sobrepeso e 19,8% da população era obesa. Ou seja, mais da metade da população não é magra, então por que não há roupas para essas pessoas? Por que só vemos pessoas magras na mídia?
Magrofobia não existe.
É nessa hora que surgem diversas mulheres magras para contar a dor & sofrimento de passar uma vida sendo chamada de Olívia Palito e coisas do tipo. Mas isso não é magrofobia, porque magrofobia não existe, ok?
Isso acontece porque todos sofremos pressão estética para atingir o corpo perfeito segundo o padrão de beleza vigente e esse padrão muda conforme a época em que vivemos. Por exemplo, basta ver as pinturas renascentistas para perceber que o corpo admirado naquele tempo, onde acesso livre a comida era apenas para os nobres, eram os corpos mais gordos — muito mais difíceis de atingir.
Hoje impera a ditadura da magreza, mas é claro que mulheres magérrimas com certeza já ouviram o comentário “mas homem gosta de ter coisa para apertar” e variados. E isso é sim triste, porque a mulher sempre é vista como um objeto para os homens consumirem, mas isso está longe de viver em um mundo que não foi feito para você. E é nesse mundo que as pessoas gordas vivem.
Das cadeiras plásticas dos botecos às macas de hospital, do tamanho das roupas à catraca do ônibus: nada foi feito para uma pessoa gorda. A gordofobia não causa apenas o sentimento de inadequação que a pressão estética causa em todos nós, a gordofobia impede pessoas gordas de terem uma vida plena.
Quando se é gordo, até unha encravada se torna motivo para receitar o emagrecimento — mesmo que a pessoa apresente exames saudáveis. Entre 2011 e 2018 o número de cirurgias de redução de estômago aumentou 84,73% no Brasil.
Segundo uma pesquisa de 2013 nos Estados Unidos, as mulheres obesas têm 50% menos chances de frequentar o Ensino Superior, recebem 9% menos do que mulheres não obesas e têm sete vezes mais chances de desenvolver depressão. E aí, você ainda acredita que existe magrofobia?
O gordinho engraçado chegou
Pare e pense: quando foi a última vez que você viu um personagem gordo e não cômico de destaque em uma novela ou filme brasileiro? Não sabe? Nós também não.
No Brasil a representatividade gorda na TV só tem espaço em produções de comédia onde o o gordo é a piada ou o gordo é o gordinho engraçado porque se você é gordo precisa “compensar” com algum outro atributo, né rs
Nas capas de revista, aqui e ali têm surgido publicações com mulheres gordas na capa, mas ainda é muito pouco. E de nada adianta uma capa com uma gorda se o recheio da revista só tem modelo magra, ok?
O padrão de beleza branco, alto, magro e de cabelo liso adoece. De acordo com uma pesquisa do IBGE em 2015, uma a cada cinco meninas brasileiras com idade entre 13 e 15 anos se acha gorda ou muito gorda. E 30,3% delas querem emagrecer.
Outra pesquisa de 2014, afirma que em São Paulo 77% das adolescentes tem propensão a desenvolver algum distúrbio alimentar. É apenas um recorte do quanto estamos adoecendo nossas meninas desde tão cedo pela busca de um padrão inatingível.
A indústria do corpo perfeito lucra milhões de reais mundo afora e cria a cada anos dezenas de produtos para nos deixar mais perfeitas. Antes de se sentir culpada depois de conferir os stories daquela musa fitness lembre-se: ela lucra com a imagem corporal dela, então enquanto você balança no transporte público para suas 8h de trabalho diárias, ela está malhando porque manter o corpo perfeito é o trabalho dela.
Romper com essa lógica individualmente é um desafio, tentar mudar o sistema parece impossível, mas precisamos de corpos livres para lutar pelo mundo igualitário em que acreditamos e cada parceiro que encontramos no caminho é muito importante. Então, que tal começar hoje a buscar mais representatividade gorda (na frente e por trás das câmeras) na sua marca?
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