Masculinidade tóxica: o que o marketing tem a ver com isso?

CTV LAB
3 min readApr 11, 2019

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Por Equipe Cative!

Ainda na esteira dos assuntos que discutimos no #MarçoVermelho, vamos falar um pouquinho sobre a relação entre masculinidade tóxica e o marketing

Terry Crews se tornou uma das principais vozes no debate sobre masculinidade tóxica

No início do ano, a Gillette lançou uma campanha para comemorar os 30 anos de um de seus slogans mais famosos, The Best a Man Can Get. A marca aproveitou para pautar uma reformulação não só de seu slogan, mas do material de suas antigas campanhas.

Grupos conservadores até tentaram organizar boicotes contra a Gillette, mas obviamente não tiveram sucesso

Nos 1 minuto e 45 segundos de vídeo, a Gillette questiona o modelo de masculinidade que ensinamos a nossos meninos e como as marcas — como ela, inclusive — reforçam estereótipos tóxicos de masculinidade.

Felizmente a discussão sobre a masculinidade tóxica e o que significa ser homem tem aumentado consideravelmente, ver marcas do tamanho da Gillette entrando no debate é um ótimo sinal.

A Old Spice ficou muito conhecida por seus comerciais exaltando o “macho”. Em 2015, a P&G, dona da marca, lançou a Old Spice em terras brasileiras com uma propaganda que pregava a volta dos “valores do macho”. Estrelada por Malvino Salvador na versão brasileira, a campanha obteve grande sucesso na época.

O estereótipo do machão já deu o que tinha que dar, né?

O ator Terry Crews era a grande estrela da marca nos Estados Unidos que mantinha a estética e o plot de “coisas de macho”. Em 2014, o ator lançou sua biografia e nela revelou como o vício em pornografia destruiu seu casamento e bagunçou outros relacionamentos de sua vida. Quando as denúncias contra Harvey Weinstein começaram a pipocar em 2017, Crews veio a público contar sobre um assédio que sofreu do produtor Adam Venit. Desde então o ator se tornou um dos rostos do debate sobre masculinidade tóxica.

Do mesmo modo que os estereótipos dificultam a vida das mulheres, o modelo do homem ideal: alto, forte, viril, provedor e que não chora, também coloca os homens numa gaiola de performance que prejudica tanto os próprios homens quanto às mulheres.

Homens que não choram não aprendem a lidar com seus próprios sentimentos e descontam na bebida e na violência. Homens que enxergam mulheres como propriedade agridem, violentam e matam as mulheres que não correspondem a esse papel predeterminado que ensinamos às crianças. O problema da masculinidade tóxica não diz respeito apenas aos homens, mas a toda a sociedade.

2016, gente 2016!

Há alguns anos o Boticário vem fazendo propagandas mais inclusivas, especialmente para o público LGBT, mas em 2016 fez essa campanha cheia de estereótipos tóxicos. Afinal, qual o problema de um homem usar produtos de beleza e falar sobre isso?

Enquanto o mercado publicitário continuar se escorando em tais estereótipos para fazer humor e vender seus produtos, continuaremos vivendo em um mundo perigoso tanto para homens quanto mulheres.

Não podemos esquecer o poder da publicidade em pautar discussões necessárias para mudar a sociedade. Como a Gillette já entendeu, os homens também precisam de exemplos positivos para se espelhar e o nosso papel é produzi-los.

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