Letícia de Maceno, autorretrato e quarentena

CTV LAB
6 min readAug 12, 2020

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Leticia de Maceno tem 26 anos, é fotógrafa, jornalista e auto retratista. Ela faz trabalhos maravilhosos que você pode encontrar no instagram @ltcdm. Hoje vamos saber um pouco mais sobre seus processos com o auto retrato, que ficou muito mais intenso durante o isolamento.

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@ltcdm: uma foto “simples” aparentemente, mas com certeza uma das mais difíceis que eu já fiz. a angulação do espelho com a lente da câmera foi difícil de acertar, então fiquei muito satisfeita quando consegui essa, e também gosto muito do que o espelho pode representar.

@juliagtr: Como foi seu processo até chegar no auto retrato?

@ltcdm: No começo eram selfies normais mesmo, eu gostava de fotografar pessoas, mas eu gostava de me ver em fotos também, aparecer no Instagram, eu também queria um biscoitinho né? hahaha

Sempre a câmera frontal, então as coisas acabavam ficando bem parecidas. Como eu fotografo desde novinha, desde que eu tinha uns 12 anos, lembro de ficar pedindo câmera pro meu pai, então introduzir elementos da fotografia não é uma coisa que eu tenho dificuldade. Conforme as selfies iam ficando muito repetitivas, eu ia ali e pegava uma flor, mudava de lugar e pegava um céu, mas assim, tudo muito jogado. Coisas que eu achava bonito e colocava dentro das minhas selfies.

Eu também gostava muito de fotografar a natureza e essas paradas. Com o tempo eu comecei a perceber que me colocar em terceira pessoa ajudava muito a compor a foto e a transmitir mais coisas, saia um pouco o foco de mim. Ao mesmo tempo que era sobre mim, porque era sobre onde eu estava, no espaço que eu estava, mas eu conseguia introduzir mais elementos naquela “selfie”, que já não era mais selfie.

Foi aí que eu percebi que eu poderia usar as coisas que eu fazia nos ensaios com as meninas, comigo, a título de teste no começo, eu queria ver se eu fazendo em casa desse certo, eu poderia oferecer pras pessoas.

Com a quarentena, já virou uma coisa que não era mais um teste, decidi fazer isso sério e comecei a seguir pessoas que também faziam autorretratos, comecei a entender mais porque eu tava com essa necessidade, de estar na frente da câmera e tem sido assim, estou descobrindo essas coisas.

@ltcdm: Esse dia acordei com saudade da praia. esse tom de azul e o chapéu que eu encontrei no fundo do armário me supriram um pouquinho da saudade do mar.

@juliagtr: Como você acha que se colocando assim, em terceira pessoa, te ajudou em outros processos fora do trampo?

@ltcdm: A primeira coisa, e a mais óbvia, que a gente vê quando começa a tirar mais foto, é a auto estima, você tira uma foto boa, se sente bem, e até de uma maneira oposta também. Às vezes a gente tira uma foto, ela não sai boa e a gente fica mal. Esses lados eu trabalhei muito através das minhas fotos. O que é uma foto né? Uma foto significa significa aquele momento exato congelado, mas na visão de quem? Quando? Onde? Então quando eu comecei a me questionar essas coisas, eu comecei a lidar bem melhor com fotos que não saem da maneira que eu quero, comecei a ter muito mais paciência comigo em vários aspectos.

Comecei a entender muito mais que às vezes as coisas tem um tipo de beleza, e outro tipo de beleza, e as vezes a gente mexe um pouco na beleza das coisas, as vezes nem tanto, então meu olhar pra a vida, pra tudo, ficou muito mais refinado. Hoje eu sei que sou uma pessoa muito mais observadora, mais paciente, com a vida, no geral, não só em relação ao trabalho.

@juliagtr: Esse processo de se fotografar também pode ser exaustivo?

@ltcdm: Esses dias eu peguei um chocolatinho, comecei a montar um cenário, porque chega uma hora que cansa, sabe? Não aguento mais me fotografar, mas é pegar isso como um exercício. É uma prática que vai te ajudar a evoluir não só na fotografia, mas de todas as formas, mesmo que seja dentro de casa, não tenha luz, não tenha as paradas, mas o melhor que você fizer dentro daquilo, já é um corre demais. A gente nem sempre vai produzir no melhor estado, então é sobre isso. Um processo de se desafiar também.

@ltcdm: Nesse dia a luz de casa acabou, fazia muito tempo que eu não fotografava e eu decidi arriscar. Usei os faróis de freio do carro e o tripé. Gostei muito do resultado, me deu vontade de continuar testando e foi o que eu fiz.

@juliagtr: Equipamento é essencial pra fazer uma boa foto?

@ltcdm: Tem fotos que você vê, que o equipamento é fudido, dificilmente a foto não vai ficar interessante, pelo menos a título de qualidade, e aí vende, porque fotografia comercial assim vende, mas e aí? Tem muita gente que está presa nisso, e não vai conseguir oferecer coisas novas. Não é só sobre lente, não é só sobre qual câmera você tem, é sobre o que eu vou fazer com isso aqui que eu tenho, o que eu quero falar. Tipo stop motion, daqueles de massinha. Eu fico de cara, que a pessoa tinha massinha e uma câmera, aí ela ficou lá, tirando 957 mil fotos e fez uma história. Acho isso muito incrível. Eu queria ter um pouquinho dessa pegada, faz você mesma, cria suas fita, usa o que tem.

Mais do que fazer um trampo, a gente tá perpetuando um tipo de conhecimento, um tipo de vivência, que queremos compartilhar com outras pessoas, comunicar algo que está dentro da gente e precisamos que saia, através de um formato criativo qualquer, cada um vai ter o seu. Como é esse processo pra você?

Me traria muita felicidade, eu me sentiria muito contemplada enquanto artista, se o que eu crio fosse além das minhas fotos. Eu fico muito feliz quando as pessoas vem falar que estão tirando mais fotos, porque daí velho, já sai de mim, eu não tenho mais controle do que vai acontecer quando a pessoa estiver aquele acesso à imagem dela, e eu acho muito incrível que eu tenha despertado uma faisquinha de vontade nas pessoas.

@juliagtr: Como é pra você, perceber que o que você faz tem impacto na vida de outras pessoas?

@ltcdm: Eu fico muito feliz, não só por mim, mas por outras pessoas também, que agora na quarentena foi meio que um ultimato assim: e aí, vai sacar qual é a do seu conteúdo? Ou vai desistir? E quem se arriscou eu vi que recebeu muito feedback positivo, e é sobre isso, a gente ir trocando. É isso que eu to fazendo, sobre os auto retratos, é uma coisa muito pessoal, então você conversa com outra pessoa que tá na mesma brisa e além das fotos serem completamente diferentes, as ideias e as inspirações também, e isso é muito enriquecedor pra todo mundo, existir essa troca.

@ltcdm: Uma das primeiras fotos que eu tirei com o meu cabelo solto depois de 3 anos sem cortar. foi um momento especial e eu tinha que registrar e contar um pouquinho da experiência.

@juliagtr: Como você quer que seja esse futuro que estamos construindo?

@ltcdm: Uma coisa que eu tenho sentido muito, estando sempre produzindo em casa, é muita vontade de trabalhar junto. Antes da pandemia era cada um fazendo seu corre, e agora vejo muito mais possibilidade de trocas e construção em conjunto, do que é foto, do que é comunicação, do que estamos entregando em termos de conteúdo para as outras pessoas, de mostrar pro mundo as nossas coisas. Vimos que se todo mundo em casa já dá pra fazer tanto, quando estivermos todos juntos, acho que vai ser uma parada muito louca pros artistas, eu tô nessa fé.

@juliagtr: O que você dá de conselho pra quem tá começando a criar e fazer arte, mas tem medo?

@ltcdm: É muito importante que a gente busque referências próximas da gente, não é sobre quantidade de seguidores, é sobre pessoas que estejam próximas da sua região, pessoas que gostam de um estilo estético que você também gosta.

Porque quando a gente procura em artistas muito grandes, a gente não consegue alcançar, a gente se perde mais do que se ajuda. Ter referências próximas é muito importante, pra tá sempre trocando ideia, não trabalhar sozinho, compartilhar essas maneiras de driblar os perrengues.

Anotar, seja mentalmente ou num caderno ou numa pasta de fotos, mas ter algo salvo que documente a sua evolução, como tava 3 meses atrás e como tá agora, pra dar pra ver o caminho percorrido, a evolução e o potencial. Isso vai com certeza te ajudar a centralizar mais no seu trabalho.

@ltcdm: Comprei uma caixinha de morangos e um vinho. Esse dia eu queria ter um momento comigo mesma, o vídeo acabou sendo consequência. Me senti tão bem que achei justo registrar

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